domingo, 29 de junho de 2014

DIÁRIO ESPÍRITA!

Paris 15 de janeiro de 1861, Allan Kardec recebe das mãos do seu editor um exemplar de “O Livro dos Médiuns”,

a mais importante e rigorosa obra publicada sobre a parte experimental da doutrina espírita.

Esta publicação lança mais uma pedra nos alicerces do edifício da ciência espírita.

Os adversários, liderados pela igreja católica de Paris, vociferam contra o codificador que se mantém sereno.

A inquisição começa a movimentar-se, acusa o espiritismo de ser responsável pelo aparecimento de assassinos e suicidas.

Anátemas e injúrias deslizam-se ágeis e as mãos dos acusadores apontam para a Sociedade de Estudos Espíritas de Paris, em cuja frente se encontra o mestre.

O ano de 1861 segue, assim, recheado de grandes e significativos episódios. No interior da Societé, o movimento é dinâmico e voltado ao estudo de O Livro dos Espíritos, O Livro dos médiuns e da Revista Espírita. As reuniões de estudos sobre mediunidade e as chamadas sessões mediúnicas, em torno de dezenas de médiuns.

A agitação exterior não conseguia atingir a calma e a serenidade interior da primeira sociedade espírita.

Kardec, entretanto, não sabia que os espíritos preparavam algo cujo rumor internacional faria estremecer os alicerces da comunicação social espírita.

Dez horas da manhã de nove de outubro de 1861,

Na esplanada da cidade de Barcelona, Espanha, no local onde são executados os criminosos e assassinos condenados à pena de morte.

Há uma hora, vários coches estacionaram no centro da praça, Desceram: um padre revestido de hábitos sacerdotais, empunhando a cruz em uma das mãos e uma tocha na outra; um escrivão encarregado de redigir o auto de fé emanado do bispo; um auxiliar do escrivão; um representante da administração das alfândegas; três empregados da alfândega que trouxeram cerca de 3oo livros espíritas despachados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachatre; um agente da própria alfândega que se dizia representante do proprietário das obras condenadas pelo bispo.

Uma multidão se acercou do grupo, No centro de La Plaza, amontoados, as obras que serão queimadas.

Ateado o fogo, uma multidão observa as chamas que consomem os livros espíritas. Palavras de ordem são dirigidas, em protesto à ação intolerante da igreja católica.

Ouvem-se gritos, movimentos agitados e palavras ásperas contra o bispo e seus auxiliares.

O episódio movimenta também a imprensa local. O espiritismo se torna alvo de comentários, curiosidade e interesse.

Barcelona e diversas cidades da Espanha a partir de então, transformam-se no epicentro da comunicação social, onde a doutrina dos espíritos é o tema do momento.

De Paris, Kardec acompanha indignado o rumo dos acontecimentos.

Nas reuniões noturnas da Sociedade Espírita de Paris, posteriormente, o codificador busca manter com os Espíritos um diálogos sobre o ocorrido na Espanha, que ficou conhecido como o “Auto de Fé de Barcelona”.

Em uma comunicação espontânea, Kardec recebe dos Espíritos a seguinte explicação: “Era preciso que alguma coisa abalasse violentamente certos espíritos encarnados para que se decidissem a ocupar desta grande doutrina que há de regenerar o mundo. Nada se perde na terra e por isso nós, que inspiramos o auto de fé de Barcelona, sabíamos que por aquele meio obrigávamos a dar um grade passo adiante,”

Conforme se pode observar, os Espíritos, naquela fase dos acontecimentos, cuidaram para que a divulgação da doutrina seguisse por meios bastantes inusitados. Quiseram chamar a atenção dos habitantes da cidade espanhola, utilizando-se do meio ainda influente da época que foram os resquícios da inquisição.

A mídia dos Espíritos atingiu, em cheio, o coração da cultura europeia.

A fogueira de Barcelona queimou as obras espíritas, mas não extinguiu as ideias que surgiram mais fortalecidas em cada pedacinho da “hermosa ciudad” de Barcelona e de outros cantos da Espanha.

Bastará lembrar que poucos anos depois,em 1888, foi realizado naquele mesmo local, o Primeiro Congresso Espírita Internacional.